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#MED1 - O Pêndulo Homilético

"'Venham, vamos resolver esse assunto', diz o Senhor. 'Embora seus pecados sejam como a escarlate, eu os tornarei brancos como a neve; embora sejam vermelhos como o carmesim, eu os tornarei brancos como a lã.'"
Isaías 1.18 NVT

Qual é o limite do amor de Deus?

A Bíblia não declara que Deus tem amor, mas que Ele é a própria definição desse sentimento (1Jo. 4.8). Mas como isso de fato nos afeta? A resposta, porém, parece mudar de tempos em tempos, em um movimento que podemos chamar de “pêndulo homilético”. Mas o que isso significa?

Um pêndulo é uma “peça móvel, formada por um corpo pesado suspenso a um ponto fixo e que, sob a ação do próprio peso, realiza movimento isócrono de vaivém”[1]. Assim, o tal “pêndulo homilético” é uma adequada expressão para nomear as opostas ênfases teológicas que ocuparam os púlpitos nas últimas décadas.

Durante muitos anos, tornou-se comum encontrar mensagens duras sendo pregadas e vividas no contexto igrejeiro. A qualidade do cristianismo de alguém era medido, em linhas gerais, pelo comprimento da saia, o tamanho do cabelo, os estilos musicais apreciados, os tipos de comida postas no prato e outras características meramente externas. Em outras palavras, o cristianismo havia se transformado em uma religião caracterizada unicamente pelas obras, e parecia que o simples ato de usar uma calça jeans, por exemplo, seria capaz de arremessar uma pessoa diretamente nas chamas ardentes do inferno (isso para aqueles que acreditavam no inferno como sendo um lugar).

Porém, o que vimos acontecer nos últimos anos foi a inversão dessa ênfase. No lugar da constante temática sobre o juízo divino foi inserida uma concepção mais romântica do amor de Deus. A prática cristã passou então a ser substituída pela “presença do Espírito”, e no lugar dos olhares duros, direcionados àqueles que estavam fora da igreja, passamos a encontrar os mesmos dedos estendidos, só que agora para aqueles considerados conservadores e tradicionalistas. Em outras palavras, passamos a conhecer o absurdo conceito do “ódio do bem”.

Mas no final das contas, qual dessas duas ênfases está realmente correta? Na prática, nenhuma das duas. Como um pêndulo que vagueia no ar de um lado ao outro, o que vimos acontecer foi a substituição de uma tônica errada (focada nas obras) para outra igualmente equivocada (a da graça barata). Além disso, os defensores dessas duas premissas passaram a se engalfinhar, usando o púlpito como palanque para defender suas ideias e esquecendo-se de que, na verdade, somos todos parte de um mesmo corpo e que nossa cabeça precisa urgentemente ser Cristo Jesus (1Co. 12.12-27; Cl. 1.18).

Por isso, qual o limite do amor de Deus? De acordo com o primeiro grupo, o limite está logo ali, ao alcance de um comportamento errado. Mas, conforme o segundo grupo, esse limite nem mesmo existe, e o Senhor é capaz de perdoar qualquer pecado por nos amar demais. Porém, a Bíblia concorda e discorda de ambos os grupos, e a melhor história que exemplifica a perspectiva divina pode ser vista no encontro de Jesus com a mulher adúltera (Jo. 8.1-11). Você se lembra dela?

Era uma manhã em Jerusalém, e Jesus ensinava no templo quando uma multidão de mestres da lei e fariseus chegaram arrastando uma mulher acusada de adultério. Apesar da estranheza de haver apenas uma pessoa acusada (afinal, adultério não se pratica sozinho), eles insistiam em ouvir o parecer de Jesus, buscando, assim, colocá-Lo contra a parede. Porém, além de inverter as expectativas daqueles homens e despedi-los de mãos abanando, Cristo deu a resposta mais completa possível àquela mulher. Em frases praticamente opostas Ele disse: “Eu também não a condeno. Vá e não peques mais.” (Jo. 8.11 NVT).

O amor de Jesus não depende de nossas obras (Ef. 2.8,9), mas também não tolera todo e qualquer comportamento humano marcado pela carga do pecado (Ez. 18.24). O amor de Jesus não exclui os rejeitados pela sociedade (Mc. 2.15,16), mas também não se conforma em preservar perpetuamente o pecado (Ap. 20.15). Em outras palavras, o amor de Deus é aquele que nos aceita como estamos para nos transformar em quem devemos ser. Foi, na prática, essa a resposta de Cristo àquela mulher.

Por isso, podemos confiar nesse amor justo que conhece nossas falhas e fraquezas, mas está disposto a nos transformar e restaurar aquilo que perdemos. A despeito das ideologias e discussões modernas, confie nesse Deus atemporal que não hesitará em destruir o pecado (e todos que com ele estiverem agarrados), mas que antes disso foi capaz de Se entregar para nos recuperar e transformar nossas vestes sujas em roupas mais alvas que a neve.

[1] https://www.dicio.com.br/pendulo/

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